quarta-feira, 2 de maio de 2012

REFLEXÃO SOBRE SER PROFESSOR UNIVERSITÁRIO



Iniciemos nossa reflexão com as perguntas: na contemporaneidade, vale a pena ser professor universitário? Porque tanto desrespeito e desvalorização com a nossa categoria? Nós que somos o alicerce para a educação, claro que não somos os professores desejados, mas estudamos, trabalhamos e nos qualificamos para tentarmos formar os cidadãos. A educação se tornou uma política de estratégia, lá no início dos anos 1980 para atender ao desenvolvimento do capital e a conformação social. Com isso, nitidamente organismos multilaterais promoveram o ajuste estrutural e criaram projetos educacionais com o objetivo de suavizar a pobreza, promovendo o desenvolvimento econômico e a inserção deste na “sociedade da informação”.
Neste cenário a categoria que mais está padecendo com esta estratégia é a de PROFESSOR, seja ele do ensino básico ou do ensino superior. A quantidade de universidades, faculdades triplicaram, incitando a desvalorização do profissional professor universitário. Desta forma, os sujeitos que hoje estejam interessados em cursar o ensino superior, principalmente cursos de licenciatura, devem compreender quais são os objetivos reais das propostas apresentadas pelos programas e cursos voltados a formação docente, ao incentivo da utilização e integração das mídias, percebendo o significado do processo de interação, processo de ensino e aprendizagem nesse espaço de comunicação entre os sujeitos.
Sabemos que cada profissão tem seus percalços, que podem está na linha de uma teoria do conhecimento, na esfera cultural, numa linha formadora, porém existe uma linha que vai além das supracitadas, que é a do ensino e aprendizagem. Se formos compreender todo o processo por qual passamos, verificaremos que podemos ser “meros amadores”, pois em nenhum momento de nossas formações foi-nos cobrado, exigido, facilitado conhecimento, competências e habilidades de didática e/ou pedagogia. Os poucos que o fazem, foram por iniciativa própria ou por algum tipo de interesse.
E porque isso acontece? Primeiro, não devemos esquecer que durante muito tempo poucas foram as manifestações em nosso país para com a formação do professor para atuar no Ensino Superior. Acreditava-se, como nas crenças que quem sabe, sabe ensinar e pronto, o bom professor nasce feito. No entanto, nos dias atuais, entende-se que a qualificação de um bom profissional tem a ver com uma série de fatores.
Fatores estes que se contempla com os primeiros e mais importantes questionamentos: eu quero mesmo me formar para ser professor? O que deverei ensinar? Decidido isto, meu caro companheiro, é preparar-se para uma luta constante... Luta esta vezes gratificante, vezes conflitante.
A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação determina no Art. 66 que “a preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado”. Contempla ainda que “o ensino superior tem por objetivo a pesquisa, o desenvolvimento das ciências, letras e artes, e a formação de profissionais de nível universitário”.
Formados estes profissionais na graduação, e para serem professores universitários devem estudar em algum curso de pós-graduação. E o que se pode constatar ao verificar a grade curricular que compõe os programas de pós-graduação é que há uma quase total ausência de estudos específicos relativos à formação para a docência. Quando muito, encontramos em alguns programas a presença de uma disciplina denominada “Metodologia do Ensino Superior”.
A formação de docentes universitários, segundo Marafon (2001, p. 72) é uma preocupação presente desde o I Plano Nacional de Pós-Graudação (PNG), elaborado no ano de 1974. Em 1999, com o Plano Nacional de Graduação, aprovado no XII Fórum Nacional de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras (FORGRAD), expressou a qualidade da formação desejada: “A pós-graduação precisa integrar à sua missão básica de formar o pesquisador a responsabilidade de formação do professor de graduação, integrando, expressamente, questões pedagógicas às que dizem respeito ao rigor dos métodos específicos de produção do saber, em perspectiva epistêmica”.
Nos dias atuais é exigido além de todas as competências e habilidades, que nós professores também consigamos mudar a postura do alunado. Aí vem minha indagação, mas será que devemos fazer isso? Ou o nosso trabalho está sendo desvirtuado? Fica a questão! Isso me remete ao professor intelectual transformador, que “compreende o seu trabalho diário como intelectual, e isso quer dizer, desenvolver um conhecimento sobre o ensino que reconheça e questione sua natureza socialmente construída e o modo como se relaciona com a ordem social, assim como analisar as possibilidades transformadoras implícitas no contexto social das aulas e do ensino (Ibidem).
Contudo, penso que deveríamos refletir mais acerca do que chamo de pilares para compreendermos o nosso artifício enquanto professores universitários: proposta pedagógica, prática docente, ação didática, construção do conhecimento, avaliação e relação aluno-professor. Entendido esses pilares, conseguiremos iniciar de fato as inquietudes quanto a nossa profissão. E, afinal é isso que pretendemos!

Referências consultadas

FARIAS, Isabel M. et al. Didática e docência: aprendendo a profissão. Brasília: Liber, 2009.
MARAFON, Maria Rosa Cavalheiro. Articulação Pós-Graduação e Graduação: desafio para a educação superior. 2001. 208 p. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Unicamp.
MASETTO, M. T. Professor universitário: um profissional da educação na atividade docente In: MASETTO, Marcos T. (org). Docência na universidade. Capinas: Papirus,1998.
PIMENTA, Selma G. A profissão professor universitário: processo de construção da identidade. In: CUNHA, M. I.Docencia universitária: profissionalização e praticas educativas. Feira de Santana: UEFS Editora, 2009.
RAMOS, Katia M. Reconfigurar a profissionalidade docente universitária: um olhar sobre ações de atualização pedagógico-didática. Porto: Universidade do Porto, 2010